quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Empreendedor também precisa tirar férias


Para os empreendedores, ano novo é momento de fazer um balanço do que aconteceu de legal no anterior e de pensar em coisas mais legais ainda para o ano seguinte. Ficou combinado que, no Brasil, esse é o período certo de tirar férias e aproveitar o verão. Deveria ser, portanto, uma época de alívio. Mas para muitos empreendedores que conheço é um tormento.

Alguns, em novembro, já estão em pânico com o fim do ano. A família quer definir onde passar férias. Os funcionários querem saber qual é a escala. Os fornecedores e os clientes ligam para perguntar o que vai e o que não vai funcionar na empresa.

Assim, não fico surpresa quando encontro gente angustiada por aí, torcendo para que esse período passe rápido. Faz parte da personalidade típica de um empreendedor não conseguir se afastar da empresa e se sentir tranquilo ao mesmo tempo. Entra aí um pouco de tudo. O senso de responsabilidade, a autocobrança de que cabe a ele dar o exemplo e até o jeito como a pessoa foi criada são alguns dos fatores que causam ansiedade em excesso.

Não há remédio para curar completamente esse aperto no peito. Em alguns casos é mais fácil lidar com ­isso. Há negócios que não podem mesmo parar de funcionar, como hospitais e empresas de segurança. Nessas situações, o jeito é deixar tudo funcionando, montar um esquema de plantão e tentar se organizar como der.

Nos outros casos, é possível optar. Mas quem resolve descansar tem de tomar algumas decisões importantes. Tirar férias e deixar a empresa nas mãos de outras pessoas? Ir viajar e ficar colado no celular?

Muitas vezes surge aquele sobressalto no empreendedor que já havia programado uma viagem com a família ou amigos há muito tempo. Intuição é intuição — e não é bom ignorar os sinais do próprio inconsciente. Se pintou encanação, é bom ter prudência mesmo.

Há situações em que acho perigoso se afastar. Se a equipe está passando por uma reestruturação e postos decisivos estiverem sendo ocupados por gente nova, por exemplo, é importante estar por perto. Mas o que é “por perto”? É necessário estar fisicamente no escritório ou a um telefonema de distância já está bom? O que não falta é tecnologia para resolver, com ligações e mensagens, um monte de pepinos.

Muitas vezes, o problema não é esse. A verdade verdadeira é que empreendedor tem dificuldade em se desligar 100% da empresa que criou. Isso não é necessariamente ruim. Hoje em dia é mais difícil dizer o que é vida profissional e pessoal, trabalho e lazer. E é possível que, estando na praia, você seja apresentado para alguém que, no futuro, venha a ser um parceiro ou investidor.



Fonte: Revista Exame / Edição nº 80 / Dezembro de 2014